Fica aqui a entrevista na íntegra, retirada do site do jornal alentejano:
Aníbal Costa, presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo, faz o balanço de dois anos de mandato
Ferreira do Alentejo, um concelho de grandes tradições agrícolas, prepara-se para acolher novos investimentos em áreas como o turismo e as agro-industriais. Em entrevista ao "Diário do Alentejo", o
presidente da Câmara Municipal revela que o concelho tem à disposição dos investidores "outras condições", só possíveis devido a algumas alterações efectuadas no Plano Director Municipal, num processo que se arrastou por três anos. A par destes investimentos, Aníbal Costa destaca a importância do Parque de Empresas, que vai sofrer um alargamento já no próximo ano, uma vez que a procura de lotes excedeu a oferta. Em termos de projectos prioritários para os dois últimos anos de mandato, o autarca aponta, entre outros, a terceira fase do Parque de Exposições e Feiras, as obras do novo arquivo municipal – "um exemplo a nível nacional" dado que alia a utilização de materiais tradicionais a técnicas modernas –, e intervenções na envolvente do estádio municipal. "Vamos procurar, dentro das nossas possibilidades e da conjuntura económica altamente adversa, continuar a desenvolver os compromissos que assumimos na campanha eleitoral", diz.
Um dos objectivos do executivo camarário é que o Parque de Empresas, uma infra-estrutura considerada fundamental para o desenvolvimento económico do concelho de Ferreira do Alentejo, esteja a funcionar em pleno no próximo ano. Qual a actual taxa de ocupação e que tipo de empresas alberga?
Convém referir, em primeiro lugar, que pelo facto de ter havido uma procura muito grande dos lotes disponíveis no Parque de Empresas a câmara pretende, já a partir do próximo ano, proceder ao seu alargamento. Já contactámos a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo no sentido de podermos avançar com o processo, e estamos a falar de mais cinco hectares de terrenos disponíveis. Dos actuais 37 lotes – um é da responsabilidade da câmara –, 31 estão comprometidos. São essencialmente empresas ligadas à agricultura – designadamente serviços agrícolas, consultadoria e venda de produtos agrícolas –, à venda de automóveis e armazéns de frio para produtos hortícolas. Temos também um estabelecimento comercial grossista (cash & carry). São fundamentalmente empresas da região. Mas ainda nenhuma começou a funcionar. A que está mais próxima de o fazer é a Agrobeja, do engenheiro Sevinate Pinto [ex-ministro da Agricultura, natural de Ferreira do Alentejo], que está à espera de um parecer do Serviço Nacional de Bombeiros. Em relação ao alargamento, os lotes poderão vir a ter uma área maior de construção do que os actuais, que ronda os 1.300, 1.400 metros quadrados. Isso será objecto de discussão.
A instalação das referidas empresas irá ter impactos significativos ao nível da criação de postos de trabalho?
O facto de se irem criar algumas dezenas de postos de trabalho com a lotação máxima do Parque de Empresas ainda não é suficiente para o que pretendemos em termos de desenvolvimento do concelho e para assegurar o mínimo de empregabilidade e, consequentemente, a fixação de pessoas. Mas penso que é uma ajuda bastante importante. É um complemento da actividade agrícola, em que o concelho tem um papel extremamente importante e estratégico, e de outras áreas como o turismo e as agro-industriais.
Em que ponto se encontra o projecto do parque agro-industrial do Penique?
Foi anunciado há uns tempos o projecto da construção do maior lagar de azeite do Mundo, que tem destinados 12 hectares do terreno agro-industrial do Penique. Existe também uma pretensão de investimento de outros grupos privados relacionados com a transformação de azeite. É um terreno extremamente importante e valioso, porque quando tem a classificação de agro-industrial permite que seja essencialmente esse tipo de empresas a poderem instalar-se nesse espaço, e tem uma localização extremamente estratégica, porque a nova auto-estrada (o novo IP8/A26) vai passar muito próximo, o que vai possibilitar também uma grande mobilidade de produtos e consequentemente melhores condições de funcionamento. Mas a nossa ideia é procurarmos também ser selectivos e altamente cuidadosos no que diz respeito à permissão de instalação de empresas naquele terreno, porque é um terreno agro-industrial com características únicas, não há mais nenhum, e temos que ter algum cuidado na escolha dos investimentos.
Aquando do início das obras do parque solar, em Outubro último, revelou existirem mais intenções de investimento na área das energias renováveis. Existe já alguma coisa em concreto?
Existe, mas aguardamos que se concretizem para depois serem tornados públicos. Temos sempre esse cuidado. Mas há realmente a pretensão de investidores privados no sentido de desenvolverem outros projectos relacionados com a energia solar, que poderá não ser fotovoltaica.
Afirmou, há algum tempo, que o Plano Director Municipal (PDM) de Ferreira do Alentejo era "extremamente restritivo, impondo grandes limitações ao nível da construção", o que condiciona investimentos de âmbito turístico. As restrições mantêm-se?
Algumas restrições mantêm-se. Mas as que diziam directamente respeito aos espaços agrícolas, e que têm a ver em concreto com o artigo 10º, estão quase ultrapassadas, por via da revisão do mesmo. Aumentou-se assim a possibilidade de construção nesses espaços agrícolas, até porque estávamos numa clara desvantagem competitiva em relação aos outros concelhos limítrofes e da região. Com esta alteração, o investimento em termos de actividade agro-industrial e turística pode registar algum avanço. O concelho de Ferreira do Alentejo será ainda mais atractivo pela possibilidade que tem em acolher esse tipo de investimentos. Aliás, vamos brevemente desenvolver uma campanha no sentido de sensibilizar os investidores privados para isso, informá-los que é necessário e possível investir no concelho de forma completamente diferente. Existe já pelo menos um projecto que diz respeito a uma actividade turística prevista para o concelho. O turismo não tem sido um sector estratégico para o concelho, por força das próprias potencialidades do concelho. É um dos principais beneficiários do plano de rega do Alqueva, tem uma grande tradição nas culturas de regadio, apostas que têm existido por parte de investidores estrangeiros e nacionais no desenvolvimento de culturas como o olival, citrinos, pomares, etc. Claramente que teria que ser esse o caminho que o concelho devia seguir, e iremos continuar a desenvolver esse caminho, agora é preciso também diversificar e esta diversificação passa por potencialidades de todos conhecidas que são as grandes condições endógenas que temos, como a paisagem, a gastronomia, o património, que podem ser potenciadas e colocadas ao dispor dos visitantes. Mas para isso tem que haver da nossa parte uma grande insistência, um grande empenho para que, por exemplo, se instalem em Ferreira alojamentos, que é uma das coisas que actualmente mais lógica terá em termos de se poder rentabilizar o que acabo de dizer. Agora uma coisa é certa, se não tivéssemos esta alteração do PDM, cujo processo se arrastou durante quase três anos, dificilmente poderíamos estar nessas condições. Mas continuam a existir no PDM grandes impedimentos, nomeadamente ao nível do espaço urbano.
Aníbal Costa está convicto de que se o concelho de Ferreira do Alentejo "tivesse mais terra", projectos ligados à agricultura não faltariam. "Todos os dias há a propensão natural para o investimento [nesta área], porque as condições estão cá e ao dispor de quem as queira aproveitar", afirma o autarca, adiantando que no sector do olival, por exemplo, "mais terra houvesse, mais terra seria aproveitada".
A este aumento de investimento está associada a existência do primeiro bloco de rega de Alqueva (conhecido como Infra-estrutura 12 e a funcionar desde Março de 2004), apesar das suas anomalias que têm causado rupturas e interrupções no abastecimento de águas aos agricultores.
O autarca refere, no entanto, que "independentemente dos prejuízos decorrentes dos problemas da Infra-estrutura 12" é preciso "destacar a prontidão com que foi encarado o problema" (a EDIA garantiu recentemente que as obras de reparação do referido bloco deverão ficar concluídas até Abril do próximo ano). "Tem sido prática comum ao longo das várias administrações centrais, quando se detectam problemas existir alguma dificuldade em corrigi-los ou repará-los de uma forma tão expedita. O que se pretende agora é uma reparação quase integral da infra-estrutura 12. É necessário da parte da administração central, como em tudo, que haja um sinal de confiança para com os investidores", diz Aníbal Costa, adiantando que "a muito breve prazo, por via do novo bloco de rega de Ferreira, o concelho vai estar quase irrigado por completo", o que "é motivo de grande satisfação e ao mesmo tempo de esperança que a água, factor fundamental para o investimento, possa atrair mais pessoas".
Factor de atracção será também a nova auto-estrada IP8/A26 que vai servir o concelho "em cerca de 30 quilómetros". O autarca só lamenta que o ministro das Obras Públicas tenha garantido que o Governo não admite qualquer período de carência, como tinha sido defendido por alguns autarcas da região. "Entendíamos que deveria haver um período de carência, de transição, por forma a que os benefícios do IP8 fossem mais directos, que não houvesse nenhum obstáculo que pudesse comprometer a atracção de mais investimento".
O concelho tem-se debatido com alguns problemas ao nível da saúde, nomeadamente a falta de médicos. Qual o panorama actual?
O panorama actual não diverge muito do da região. É sabido que quando chega a altura de férias, principalmente de Verão, essa falta de médicos repercute-se normalmente no funcionamento dos serviços. Tem sido feito um grande esforço por parte da câmara de sensibilização, de pressão até da própria administração central, através da Administração Regional de Saúde do Alentejo, de forma a que sejam reconhecidas as carências evidentes, e de conhecimento de todos, de uma população extremamente idosa, com alguma dificuldade de mobilidade. Mas temos alguns receios de que a situação no futuro possa vir a agravar-se porque cada vez há maior dificuldade a nível de médicos nas regiões do interior. A zona do Baixo Alentejo é uma zona reconhecida por todos como menos atractiva para a carreira médica e obviamente que nos deixa preocupados. Iremos dentro das nossas possibilidade fazer os necessários esforços para que a população seja melhor servida.
Mas ponderam criar, à semelhança de outros municípios, incentivos à fixação de médicos?
O concelho de Ferreira do Alentejo é caracterizado por uma grande mobilidade. Estamos a uma hora e pouco de Lisboa, com a nova auto-estrada estaremos ainda a menos. Pensamos que não é por razões de afastamento do território, ou do território não ser atractivo, é um problema generalizado. Isto passa necessariamente por uma política a nível nacional de incremento e de favorecimento para a licenciatura de mais profissionais, e isso é um processo que deveria ter sido iniciado há bastantes anos. Agora começam já a ser dados alguns passos. Mas temo que seja cada vez mais difícil haver médicos e que depois esses médicos se sintam atraídos para virem para o interior do País. Todos nós devemos ficar um pouco preocupados porque há mais vida para além do litoral, e isso é importante destacar.
A requalificação urbana tem merecido alguma atenção especial neste seu primeiro mandato. Que intervenções decorreram nestes dois anos?
Tivemos, ao longo destes dois anos, que desenvolver alguns projectos, designadamente projectos de reabilitação e recuperação urbana e o que acontece é que grande parte destes projectos começou agora a ser concretizada. Um pouco por todas as freguesias temos desenvolvido projectos de requalificação e reabilitação de espaços, porque é importante cada vez mais permitir que os espaços públicos estejam ao dispor, e da melhor forma possível, das pessoas. Isso tem sido sempre uma preocupação constante, a par do desenvolvimento económico. A reabilitação urbana é uma questão fundamental porque permite melhorar a qualidade de vida das pessoas, consolidar a estrutura urbana existente e ao mesmo tempo intervir onde as pessoas mais necessitam em termos urbanísticos. Estamos também a tornar as aldeias e a vila mais atractivas e mais bonitas e por essa via poderemos atrair mais pessoas. Estamos agora a fazer uma intervenção ao nível da requalificação urbanística e água na rua da Fonte, rua do Movimento das Forças Armadas, que há 55 anos não era intervencionada. É uma rua altamente emblemática e também tem outra situação particular, é precisamente a que dá acesso ao parque de feiras, permitirá assim um melhor acesso, proporcionando ao mesmo tempo melhores condições para os residentes e melhor circulação automóvel, para além de tornar a zona envolvente do parque mais atractiva em termos urbanísticos. Já se iniciaram também as obras de requalificação da entrada Este da vila, já foi feita ali uma pequena intervenção no valor de 40 mil euros, e estamos agora a desenvolver outro projecto que tem a ver com o chamado ‘jardim do ferrinho de engomar’ [largo Maldonado Vivião Passanha], uma obra no valor aproximadamente de 100 mil euros. Desenvolvemos logo no início do mandato a reabilitação e a criação da praça Santa Maria Madalena, que é o espaço onde se situa a Segurança Social, junto à capela de Santa Maria Madalena. Nas freguesias tem havido uma intervenção generalizada, desde a qualificação das ruas à intervenção junto a equipamentos colectivos. Está em curso também a conclusão da rede de centros culturais, estando previsto para 2008 a construção do centro cultural de Odivelas, que conclui assim a rede. Também no que diz respeito às casas mortuárias, em Pêroguarda começarão as obras em breve, se não começaram já, e em Odivelas terão início em 2008.
Quais são as prioridades para os próximos dois anos?
Cumprir o que falta do programa eleitoral. Temos bastantes compromissos assumidos na campanha eleitoral já cumpridos e vamos procurar, dentro das nossas possibilidades e da conjuntura económica altamente adversa, continuar a desenvolver esses compromissos. Temos a noção que, por exemplo, não conseguiremos sentir a verdadeira dimensão do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) neste mandato, um instrumento importante no qual nos temos envolvido bastante no sentido de estabelecermos contactos com as câmaras limítrofes e nos empenharmos para que haja projectos comuns desenvolvidos por vários municípios. Muito provavelmente só no fim deste mandato é que começaremos a sentir os apoios financeiros porque houve um atraso e só agora vão começar as candidaturas. Mas a nossa ideia é continuar a servir as pessoas da melhor forma que pudermos e soubermos, sempre tendo em conta três princípios fundamentais: uma certa humildade, uma certa determinação, no sentido de fazermos as coisas com uma grande força para que elas tenham o maior impacto possível, e com um grande rigor, porque cada vez mais os recursos públicos são escassos.
Mas que projectos são considerados prioritários?
Vamos começar dentro em breve a terceira fase do Parque de Exposições e Feiras depois da conclusão das obras que já referi do ‘jardim do ferrinho de engomar’ e da rua do Movimento das Forças Armadas. Temos também as obras do novo arquivo municipal, ao lado do edifício da câmara, que vai ter a particularidade de ser um edifício de construção sustentável, ou seja, de ter a utilização de materiais tradicionais com técnicas modernas que vão, sobremaneira, valorizar a própria obra. Vai ser até um exemplo a nível nacional. Iremos ainda proceder a uma intervenção na envolvente do estádio municipal e nesse âmbito procuraremos desenvolver também um programa de reabilitação urbana para os bairros adjacentes ao estádio. Também nas freguesias vai haver intervenções muito importantes e significativas, nomeadamente em Figueira de Cavaleiros, na zona envolvente ao actual IP8, e outros projectos de grande monta que queremos obviamente concluir neste mandato.
Qual é a situação financeira da autarquia?
A câmara tem sido administrada com grande rigor. Não entramos em compromissos que não temos possibilidade de cumprir e obviamente que temos sempre presente que qualquer serviço deve ser pago a tempo e horas, em prazos aceitáveis. Sabemos que se a câmara de Ferreira do Alentejo honrar os seus compromissos o concelho será muito mais respeitado. É a própria imagem do concelho que está em causa. Agora se me perguntar se gostaria de ter mais dinheiro, claro que gostaria. Mas isso é próprio de quem gosta de honrar os seus compromissos fazendo mais e servindo melhor as pessoas, e para isso obviamente temos que ter mais recursos. Mas a câmara de Ferreira do Alentejo, à semelhança das outras, é uma câmara com receitas diminutas e que tem alguma dificuldade em gerar receitas próprias.
Ferreira do Alentejo, um concelho de grandes tradições agrícolas, prepara-se para acolher novos investimentos em áreas como o turismo e as agro-industriais. Em entrevista ao "Diário do Alentejo", o
Um dos objectivos do executivo camarário é que o Parque de Empresas, uma infra-estrutura considerada fundamental para o desenvolvimento económico do concelho de Ferreira do Alentejo, esteja a funcionar em pleno no próximo ano. Qual a actual taxa de ocupação e que tipo de empresas alberga?
Convém referir, em primeiro lugar, que pelo facto de ter havido uma procura muito grande dos lotes disponíveis no Parque de Empresas a câmara pretende, já a partir do próximo ano, proceder ao seu alargamento. Já contactámos a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo no sentido de podermos avançar com o processo, e estamos a falar de mais cinco hectares de terrenos disponíveis. Dos actuais 37 lotes – um é da responsabilidade da câmara –, 31 estão comprometidos. São essencialmente empresas ligadas à agricultura – designadamente serviços agrícolas, consultadoria e venda de produtos agrícolas –, à venda de automóveis e armazéns de frio para produtos hortícolas. Temos também um estabelecimento comercial grossista (cash & carry). São fundamentalmente empresas da região. Mas ainda nenhuma começou a funcionar. A que está mais próxima de o fazer é a Agrobeja, do engenheiro Sevinate Pinto [ex-ministro da Agricultura, natural de Ferreira do Alentejo], que está à espera de um parecer do Serviço Nacional de Bombeiros. Em relação ao alargamento, os lotes poderão vir a ter uma área maior de construção do que os actuais, que ronda os 1.300, 1.400 metros quadrados. Isso será objecto de discussão.
A instalação das referidas empresas irá ter impactos significativos ao nível da criação de postos de trabalho?
O facto de se irem criar algumas dezenas de postos de trabalho com a lotação máxima do Parque de Empresas ainda não é suficiente para o que pretendemos em termos de desenvolvimento do concelho e para assegurar o mínimo de empregabilidade e, consequentemente, a fixação de pessoas. Mas penso que é uma ajuda bastante importante. É um complemento da actividade agrícola, em que o concelho tem um papel extremamente importante e estratégico, e de outras áreas como o turismo e as agro-industriais.
Em que ponto se encontra o projecto do parque agro-industrial do Penique?
Foi anunciado há uns tempos o projecto da construção do maior lagar de azeite do Mundo, que tem destinados 12 hectares do terreno agro-industrial do Penique. Existe também uma pretensão de investimento de outros grupos privados relacionados com a transformação de azeite. É um terreno extremamente importante e valioso, porque quando tem a classificação de agro-industrial permite que seja essencialmente esse tipo de empresas a poderem instalar-se nesse espaço, e tem uma localização extremamente estratégica, porque a nova auto-estrada (o novo IP8/A26) vai passar muito próximo, o que vai possibilitar também uma grande mobilidade de produtos e consequentemente melhores condições de funcionamento. Mas a nossa ideia é procurarmos também ser selectivos e altamente cuidadosos no que diz respeito à permissão de instalação de empresas naquele terreno, porque é um terreno agro-industrial com características únicas, não há mais nenhum, e temos que ter algum cuidado na escolha dos investimentos.
Aquando do início das obras do parque solar, em Outubro último, revelou existirem mais intenções de investimento na área das energias renováveis. Existe já alguma coisa em concreto?
Existe, mas aguardamos que se concretizem para depois serem tornados públicos. Temos sempre esse cuidado. Mas há realmente a pretensão de investidores privados no sentido de desenvolverem outros projectos relacionados com a energia solar, que poderá não ser fotovoltaica.
Afirmou, há algum tempo, que o Plano Director Municipal (PDM) de Ferreira do Alentejo era "extremamente restritivo, impondo grandes limitações ao nível da construção", o que condiciona investimentos de âmbito turístico. As restrições mantêm-se?
Algumas restrições mantêm-se. Mas as que diziam directamente respeito aos espaços agrícolas, e que têm a ver em concreto com o artigo 10º, estão quase ultrapassadas, por via da revisão do mesmo. Aumentou-se assim a possibilidade de construção nesses espaços agrícolas, até porque estávamos numa clara desvantagem competitiva em relação aos outros concelhos limítrofes e da região. Com esta alteração, o investimento em termos de actividade agro-industrial e turística pode registar algum avanço. O concelho de Ferreira do Alentejo será ainda mais atractivo pela possibilidade que tem em acolher esse tipo de investimentos. Aliás, vamos brevemente desenvolver uma campanha no sentido de sensibilizar os investidores privados para isso, informá-los que é necessário e possível investir no concelho de forma completamente diferente. Existe já pelo menos um projecto que diz respeito a uma actividade turística prevista para o concelho. O turismo não tem sido um sector estratégico para o concelho, por força das próprias potencialidades do concelho. É um dos principais beneficiários do plano de rega do Alqueva, tem uma grande tradição nas culturas de regadio, apostas que têm existido por parte de investidores estrangeiros e nacionais no desenvolvimento de culturas como o olival, citrinos, pomares, etc. Claramente que teria que ser esse o caminho que o concelho devia seguir, e iremos continuar a desenvolver esse caminho, agora é preciso também diversificar e esta diversificação passa por potencialidades de todos conhecidas que são as grandes condições endógenas que temos, como a paisagem, a gastronomia, o património, que podem ser potenciadas e colocadas ao dispor dos visitantes. Mas para isso tem que haver da nossa parte uma grande insistência, um grande empenho para que, por exemplo, se instalem em Ferreira alojamentos, que é uma das coisas que actualmente mais lógica terá em termos de se poder rentabilizar o que acabo de dizer. Agora uma coisa é certa, se não tivéssemos esta alteração do PDM, cujo processo se arrastou durante quase três anos, dificilmente poderíamos estar nessas condições. Mas continuam a existir no PDM grandes impedimentos, nomeadamente ao nível do espaço urbano.
A este aumento de investimento está associada a existência do primeiro bloco de rega de Alqueva (conhecido como Infra-estrutura 12 e a funcionar desde Março de 2004), apesar das suas anomalias que têm causado rupturas e interrupções no abastecimento de águas aos agricultores.
O autarca refere, no entanto, que "independentemente dos prejuízos decorrentes dos problemas da Infra-estrutura 12" é preciso "destacar a prontidão com que foi encarado o problema" (a EDIA garantiu recentemente que as obras de reparação do referido bloco deverão ficar concluídas até Abril do próximo ano). "Tem sido prática comum ao longo das várias administrações centrais, quando se detectam problemas existir alguma dificuldade em corrigi-los ou repará-los de uma forma tão expedita. O que se pretende agora é uma reparação quase integral da infra-estrutura 12. É necessário da parte da administração central, como em tudo, que haja um sinal de confiança para com os investidores", diz Aníbal Costa, adiantando que "a muito breve prazo, por via do novo bloco de rega de Ferreira, o concelho vai estar quase irrigado por completo", o que "é motivo de grande satisfação e ao mesmo tempo de esperança que a água, factor fundamental para o investimento, possa atrair mais pessoas".
Factor de atracção será também a nova auto-estrada IP8/A26 que vai servir o concelho "em cerca de 30 quilómetros". O autarca só lamenta que o ministro das Obras Públicas tenha garantido que o Governo não admite qualquer período de carência, como tinha sido defendido por alguns autarcas da região. "Entendíamos que deveria haver um período de carência, de transição, por forma a que os benefícios do IP8 fossem mais directos, que não houvesse nenhum obstáculo que pudesse comprometer a atracção de mais investimento".
O concelho tem-se debatido com alguns problemas ao nível da saúde, nomeadamente a falta de médicos. Qual o panorama actual?
O panorama actual não diverge muito do da região. É sabido que quando chega a altura de férias, principalmente de Verão, essa falta de médicos repercute-se normalmente no funcionamento dos serviços. Tem sido feito um grande esforço por parte da câmara de sensibilização, de pressão até da própria administração central, através da Administração Regional de Saúde do Alentejo, de forma a que sejam reconhecidas as carências evidentes, e de conhecimento de todos, de uma população extremamente idosa, com alguma dificuldade de mobilidade. Mas temos alguns receios de que a situação no futuro possa vir a agravar-se porque cada vez há maior dificuldade a nível de médicos nas regiões do interior. A zona do Baixo Alentejo é uma zona reconhecida por todos como menos atractiva para a carreira médica e obviamente que nos deixa preocupados. Iremos dentro das nossas possibilidade fazer os necessários esforços para que a população seja melhor servida.
Mas ponderam criar, à semelhança de outros municípios, incentivos à fixação de médicos?
O concelho de Ferreira do Alentejo é caracterizado por uma grande mobilidade. Estamos a uma hora e pouco de Lisboa, com a nova auto-estrada estaremos ainda a menos. Pensamos que não é por razões de afastamento do território, ou do território não ser atractivo, é um problema generalizado. Isto passa necessariamente por uma política a nível nacional de incremento e de favorecimento para a licenciatura de mais profissionais, e isso é um processo que deveria ter sido iniciado há bastantes anos. Agora começam já a ser dados alguns passos. Mas temo que seja cada vez mais difícil haver médicos e que depois esses médicos se sintam atraídos para virem para o interior do País. Todos nós devemos ficar um pouco preocupados porque há mais vida para além do litoral, e isso é importante destacar.
A requalificação urbana tem merecido alguma atenção especial neste seu primeiro mandato. Que intervenções decorreram nestes dois anos?
Tivemos, ao longo destes dois anos, que desenvolver alguns projectos, designadamente projectos de reabilitação e recuperação urbana e o que acontece é que grande parte destes projectos começou agora a ser concretizada. Um pouco por todas as freguesias temos desenvolvido projectos de requalificação e reabilitação de espaços, porque é importante cada vez mais permitir que os espaços públicos estejam ao dispor, e da melhor forma possível, das pessoas. Isso tem sido sempre uma preocupação constante, a par do desenvolvimento económico. A reabilitação urbana é uma questão fundamental porque permite melhorar a qualidade de vida das pessoas, consolidar a estrutura urbana existente e ao mesmo tempo intervir onde as pessoas mais necessitam em termos urbanísticos. Estamos também a tornar as aldeias e a vila mais atractivas e mais bonitas e por essa via poderemos atrair mais pessoas. Estamos agora a fazer uma intervenção ao nível da requalificação urbanística e água na rua da Fonte, rua do Movimento das Forças Armadas, que há 55 anos não era intervencionada. É uma rua altamente emblemática e também tem outra situação particular, é precisamente a que dá acesso ao parque de feiras, permitirá assim um melhor acesso, proporcionando ao mesmo tempo melhores condições para os residentes e melhor circulação automóvel, para além de tornar a zona envolvente do parque mais atractiva em termos urbanísticos. Já se iniciaram também as obras de requalificação da entrada Este da vila, já foi feita ali uma pequena intervenção no valor de 40 mil euros, e estamos agora a desenvolver outro projecto que tem a ver com o chamado ‘jardim do ferrinho de engomar’ [largo Maldonado Vivião Passanha], uma obra no valor aproximadamente de 100 mil euros. Desenvolvemos logo no início do mandato a reabilitação e a criação da praça Santa Maria Madalena, que é o espaço onde se situa a Segurança Social, junto à capela de Santa Maria Madalena. Nas freguesias tem havido uma intervenção generalizada, desde a qualificação das ruas à intervenção junto a equipamentos colectivos. Está em curso também a conclusão da rede de centros culturais, estando previsto para 2008 a construção do centro cultural de Odivelas, que conclui assim a rede. Também no que diz respeito às casas mortuárias, em Pêroguarda começarão as obras em breve, se não começaram já, e em Odivelas terão início em 2008.
Quais são as prioridades para os próximos dois anos?
Cumprir o que falta do programa eleitoral. Temos bastantes compromissos assumidos na campanha eleitoral já cumpridos e vamos procurar, dentro das nossas possibilidades e da conjuntura económica altamente adversa, continuar a desenvolver esses compromissos. Temos a noção que, por exemplo, não conseguiremos sentir a verdadeira dimensão do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) neste mandato, um instrumento importante no qual nos temos envolvido bastante no sentido de estabelecermos contactos com as câmaras limítrofes e nos empenharmos para que haja projectos comuns desenvolvidos por vários municípios. Muito provavelmente só no fim deste mandato é que começaremos a sentir os apoios financeiros porque houve um atraso e só agora vão começar as candidaturas. Mas a nossa ideia é continuar a servir as pessoas da melhor forma que pudermos e soubermos, sempre tendo em conta três princípios fundamentais: uma certa humildade, uma certa determinação, no sentido de fazermos as coisas com uma grande força para que elas tenham o maior impacto possível, e com um grande rigor, porque cada vez mais os recursos públicos são escassos.
Mas que projectos são considerados prioritários?
Vamos começar dentro em breve a terceira fase do Parque de Exposições e Feiras depois da conclusão das obras que já referi do ‘jardim do ferrinho de engomar’ e da rua do Movimento das Forças Armadas. Temos também as obras do novo arquivo municipal, ao lado do edifício da câmara, que vai ter a particularidade de ser um edifício de construção sustentável, ou seja, de ter a utilização de materiais tradicionais com técnicas modernas que vão, sobremaneira, valorizar a própria obra. Vai ser até um exemplo a nível nacional. Iremos ainda proceder a uma intervenção na envolvente do estádio municipal e nesse âmbito procuraremos desenvolver também um programa de reabilitação urbana para os bairros adjacentes ao estádio. Também nas freguesias vai haver intervenções muito importantes e significativas, nomeadamente em Figueira de Cavaleiros, na zona envolvente ao actual IP8, e outros projectos de grande monta que queremos obviamente concluir neste mandato.
Qual é a situação financeira da autarquia?
A câmara tem sido administrada com grande rigor. Não entramos em compromissos que não temos possibilidade de cumprir e obviamente que temos sempre presente que qualquer serviço deve ser pago a tempo e horas, em prazos aceitáveis. Sabemos que se a câmara de Ferreira do Alentejo honrar os seus compromissos o concelho será muito mais respeitado. É a própria imagem do concelho que está em causa. Agora se me perguntar se gostaria de ter mais dinheiro, claro que gostaria. Mas isso é próprio de quem gosta de honrar os seus compromissos fazendo mais e servindo melhor as pessoas, e para isso obviamente temos que ter mais recursos. Mas a câmara de Ferreira do Alentejo, à semelhança das outras, é uma câmara com receitas diminutas e que tem alguma dificuldade em gerar receitas próprias.
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